Somos todos um - Parte 1

Fonte: http://todosumso.tumblr.com/

No último texto, falei sobre a percepção de sermos um, percepção essa que não veio da noite para o dia e que também já estava intelectualmente enraizada em minha mente, mas que ainda não havia experimentado da forma como aconteceu nesse retiro. Primeiramente, o que quero dizer com “somos todos um”? Há diversas respostas dependendo do que queres escolher. A física quântica responde de uma forma, algumas linhas espirituais de outra, mas em resumo é dizer que somos todos um só, somos energia, ou somos Luz, ou somos vibração, ou somos sons, aí vai depender da vertente que escolher se será pela ciência quântica ou pelas linhagens espirituais, mas o que importa é somente que somos todos um.

Aí vem a pergunta “como percebi isso em meu retiro”, a percepção se deu de várias formas, de várias maneiras e no final do retiro foi muito lindo e forte essa percepção, mas começarei a contar do primeiro contato que tive com ela lá no Dhamma Sarana. Conforme já mencionei para vocês no texto das sombras, o segundo dia foi um dos mais difíceis para mim, mas também um dos mais lindos, pois foi nesse dia que após o almoço lá pelo meio dia, o sol estava bem forte, um dos poucos dias em que fizeram sol de rachar o cocuruto. Ao descer vagarosamente pelo caminho do refeitório até o quarto avistei de longe uns bichinhos na árvore de amora, na verdade não sei bem se eram guaxinim ou gambás mesmo, mas era uma família linda, deviam ter uns cinco ou seis ali, subindo na árvore e se alimentando das amoras maduras. Os bichanos eram bem espertos só pegavam as pretinhas, as vermelhinhas eles nem davam bola. Foi aí nesse caminho que fui convidado a parar para observá-los, ao contrário do que desejava que era só chegar no quarto escovar os dentes do almoço e deitar, pois, tudo estava muito intenso, mas já que a vida havia me surpreendido com essas belezas da natureza, resolvi parar ali para observar e agradecer por esse momento tão especial, apesar do rebuliço interno que vivenciava. Foi enquanto agradecia à Gaia, espírito da mãe terra, por aquele momento tão mágico e especial que a mágica aconteceu, que a conexão se deu, um desses bichinhos que observava me hipnotizou, parou ali por alguns segundos, confesso que a sensação que tive deve ter sido minutos, mas como minha percepção de tempo estava bem alterada (falarei sobre o tempo no próximo texto) é mais provável que essa conexão tenha sido de segundos mesmo se muito chegando há um minuto...hehehehe

E o que foi essa conexão? A conexão foi que o vi me olhando e eu o olhando, trocamos olhares como acontece entre nós humanos e sei que ele estava me vendo e me percebendo, pois eu sentia isso muito forte e de repente toda aquela angústia, dor e sensações ruins que estava tendo naquele dia ficaram leves e como uma mensagem que senti vir dele para mim dizia: “ – Calma, calma, tudo vai ficar bem, tudo ficará em paz. Tenha fé, confia e se entregue, isso é só parte do processo”.

Sim, sim, sim, podem me chamar de maluco, mas foi exatamente isso que senti do bichano ali naquele momento. Foi i exatamente essa conexão que tivemos ali pelos olhares e que me invadiu por um instante e como disse, foi algo rápido, porém minha percepção era de que tinha demorado minutos, logo ele se virou e voltou a comer as amoras que seu irmão, pai, mãe derrubavam da árvore, pois o espertinho estava no chão e ficava catando o que caia na grama enquanto outro da família estava em cima do galho meio que balançando. Aquilo foi tão forte, intenso e marcante para mim que resolvi seguir para o quarto e fazer o que tinha me programado, descansar, mas só que aí não foi possível, pois agora, além de tudo o que o dia estava me apresentando de dificuldades, eu ainda estava pensando que era louco e que estava alimentando fantasias na cabeça. Pronto, a cabeça e a mente viraram um trevo e descansar foi exatamente a única coisa que não fiz, fiquei foi me revirando de um lado para o outro na cama até o sino tocar novamente e voltar a sala de meditação...kkkkkkkkkkkk

A outra vivência foi na prática da Meditação Anapana, mais precisamente no terceiro dia do retiro, ali enquanto respirava, ar que entra e ar que sai e eu me concentrado em todas as sensações que aconteciam entre minhas narinas e o lábio superior, confesso que foi difícil em alguns momentos sentir algo por ali, mas teve um momento em que eu me senti em alfa, senti como se estivesse flutuando, senti que fazia parte do ar e que o ar fazia parte de mim, foi uma leveza, uma sensação de paz infinita, algo muito bom e gostoso, que confesso queria ficar ali por horas, quem sabe pelos dez dias, mas ela também durou segundos e como aprendi no curso foque na equanimidade e na impermanência (aniccaaaaaaaaaaa), ou seja, não crie sentimentos por momentos bons e nem pelas dores que irá sentir, foi o que tentei fazer, mas confesso que com essa paz, leveza e sensação de que eu era o ar e ele era eu me invadindo por inteiro só me fazia querer mais e mais disso, portanto foi bem complicado não se apegar a isso, mas como passou e não senti mais, acabei também aprendendo a lição da impermanência.

E a última experiência e acredito que a mais bonita de todas foi a das energias e trocas com as outras pessoas que estavam no retiro, essa daí foi linda demais, porém acho que o texto já se estendeu muito e essa merece um texto só para ela...hehehehe

Apenas para lembrá-los que esses relatos são descrições da minha experiência com esses dez dias de meditação vipassana e que isso não quer dizer que estou certo, nem errado e muito menos que se for experimentar essa prática irá vivenciar tudo isso, até porque eu mesmo já não garanto que, na próxima experiência, vivenciarei essas sensações, emoções e pensamentos, afinal como aprendemos no curso Anicca (impermanência) o momento de agora já não é mais como o momento que tive pela manhã.

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