Às Sombras - Meditação Vipassana terceiro texto

Eu antes de cortar o cabelo, mas só a sombra para representar o texto de hoje.


Continuando a saga dos dez textos sobre a meditação Vipassana, no de hoje irei me referir às sombras...

Vou começar pontuando o que chamarei de minhas sombras e aí depois lhes conto o que aconteceu no retiro em relação a isso. Estou chamando de sombra aquilo que considero   o meu lado escuro, me refiro às minhas limitações, dores, defeitos e vícios que tenho e, muitas vezes, não acreditava mais ter. Agora vem a confissão e o que o retiro fez comigo. Já estou nessa busca espiritual e de autoconhecimento há anos e por isso muitas vezes acreditei que as sombras já haviam sido superadas por mim mesmo, inclusive que alguns sentimentos e emoções já não se faziam tão presentes em minha vida. Acreditava que, por estar evoluindo no autoconhecimento, as sombras tinham ficado para trás, mas doce engano.

Foi no segundo dia de retiro que muitas delas vieram à tona e se apresentaram a mim. Foi i nesse dia que percebi o quanto eu estava impaciente, apesar de achar que era o cara mais paciente do mundo, foi aí que me deparei com o sentimento  de ódio, apesar de até então achar que  só tinha amor no coração desde o dia em que assumi os cinco compromissos do Reiki como metas diárias... Ahhhhhhh e só mencionei dois sentimentos, por enquanto, mas eles vieram de uma maneira muito explícita em minha mente, vieram com imagens de acontecimentos que eu havia vivido há pouco tempo e, de repente, parecia que a minha  própria mente e corpo diziam  para mim “ e você achando que era só Luz, olha aí esse outro lado”... E aí minha mente ficou um trevo, minha cabeça e meu corpo endoidaram de um jeito que eu mal conseguia me manter sentado na mesma postura por dez minutos nas meditações. A inquietação era gigantesca e eu só queria que aquele dia acabasse logo, pois honestamente eu não queria lidar com aquilo, eu queria fugir, eu queria fugir de mim mesmo, eu queria me esconder de mim, queria voltar para casa e ligar a TV e me desligar daquilo tudo e pronto acreditar que ainda vivia na luz e isso tudo tinha sido só um sonho. Sim, sim esse foi o meu primeiro e maior desejo durante todo aquele dia, mas me mantive firme no propósito que havia assumido comigo mesmo e afirmei para mim mesmo que se até o horário do almoço do terceiro dia eu continuasse com esses sentimentos e sensações, iria repensar minha jornada nesses dez dias. E aí eu aceitei isso que estava acontecendo de uma forma mais leve e, por incrível que pareça, foi nesse momento que as sensações e emoções começaram a se modificar dentro de mim, veio a meditação da noite das 18h às 19h e, de repente, consegui estar mais sereno e apreciar melhor aquele momento e ficar menos inquieto. Na sequência, veio a palestra da noite e aí foi só alegria, pois a palestra foi feita para aquele momento que estava vivenciando, ela foi ao mesmo tempo um tapa na cara me mostrando a realidade e que devia encarar isso como uma libertação, algo que está vindo à tona para eu trabalhar e melhorar como ser humano e não algo do qual eu deveria fugir, correr para me distrair com outras coisas, conforme pensei num primeiro momento.

As sombras se apresentaram, outras também se apresentaram ao longo de todo o retiro, mas aí eu já estava apreciando e vivenciando tudo de maneira diferente, pois uma das coisas que mais aprendi no curso é se manter impermanente (aniccaaaaaaaaaa) e assim perceber que as sensações boas virão e passarão e as sensações ruins também virão e passaram. Embora esse primeiro contato tenha sido bem tenso e eu tenha criado uma repulsa e ímpeto querer fugir, o que aconteceu dentro de mim foi o inverso, pois quanto mais eu reprimia, ou queria silenciar, essas coisas dentro de mim, mais eu estava me apegando a elas e consequentemente mais forte e intensamente elas voltavam nas horas seguintes de meditação. A briga foi intensa até que em algum momento a palavra Aniccaaaaaaaaaaaaaa entrou com tudo em minha mente e eu percebi que deveria apreciar aquilo que estava acontecendo e aceitar a realidade que estava sendo colocada para mim ali naquela hora, pois era o que tinha para aquele momento e o depois, ahhhhhhh o depois deixamos para quando o depois chegar.

Esse segundo dia em que me deparei frente a frente com as minhas sombras foi um dos dias mais tensos em minha jornada no reitiro, foi o dia em que pensei em abandonar o barco, na verdade, o único dia em que pensei nisso durante os dez dias. Se me perguntarem se tiveram outros dias difíceis, direi-lhes que sim teve o sexto, mas nesse não pensei em abandonar o barco, pensava só em ir mais fundo e mais fundo, pois já estava apaixonado pela prática de Vipassana e pela forma como ela nos purificava, então queria era mais sentir tudo isso mesmo e me purificar e me libertar, logo no sexto dia eu desejava que as coisas acontecessem intensamente para experimentar as sensações e aceita-las.

 Voltemos para as sombras, apesar de no sexto dia eu ter lidado muito com uma sombra específica que também apareceu nesse segundo dia, mas que falarei dela em um outro texto, dedicando um texto exclusivo para ela,  um dos ensinamentos mais lindos que tive com esse momento duro, forte e cheio de delicadezas foi o  de que “tudo passa” e que somos seres impermanentes. Na verdade, eu já sabia disso intelectualmente, mas esse ensinamento veio para o corpo, senti ele em mim, diferente de apenas saber intelectualmente, de saber a teoria, eu de uma maneira que ainda nem sei explicar direito, eu experimentei isso, eu senti em mim e agora tudo  está diferente em meus dias e minha vida, pois essa sensação tem me feito cada vez mais vivenciar intensamente o presente, o momento do agora, outra coisa que também toda a espiritualidade fala, mas que não é algo fácil de se fazer. Porém eu agradeço imensamente a esse curso por ter aprendido isso e pela oportunidade de  estar me tornando um ser melhor a cada dia, um ser menos ansioso, menos atabalhoado, mais presente no aqui e no agora, mais inteiro em tudo que estou fazendo e, principalmente, apreciando todas as coisas que se apresentam, pois  elas são o que preciso receber  neste momento para me tornar uma pessoa melhor e conseguir ser aquilo que sempre sonhei: um ser que emana amor por todos os seres e que vivencia esse amor na prática e não só nas palavras, teorias e escritos.

Aí está mais um texto e mais uma das experiências que tive nesse retiro e reitero novamente que foram minhas experiências, que outras pessoas vivenciaram coisas, sensações e emoções completamente diferentes das minhas. Assim se fizer o retiro Vipassana aproveite o que se apresentar para ti e saiba observar, apenas observar com neutralidade e impermanência (Aniccaaaaaaaa), pois não há certo e nem errado há apenas a forma como se apresentará para você naquele momento.

Gratidão por estarem acompanhando esses textos, gratidão pelos comentários e mensagens lindas que tenho recebido por partilhar isso e gratidão à vida, à mãe terra “Gaia” e a todos os seres por terem me permitido experimentar todas essas sensações nessa minha jornada de evolução e que eu possa ser cada vez melhor para ajudar o mundo a ser um lugar ainda melhor.

Gratidão, gratidão e gratidão...

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