Adhitthãna

Foto setembro de 2015 - Tentando representar Adhitthãna

Adhitthãna, que significa firme determinação, foi um dos grandes desafios de todo esse percurso no retiro, pois é a partir do quarto dia que eles te indicam ter firme determinação durante as meditações de uma hora. E esses momentos eram especiais, pois todas as pessoas que ali estavam servindo, ou só sentando no retiro, meditavam juntas. Essas meditações aconteciam às 8h da manhã, às 14h30 e a última às 18h.

Confesso que sentar durante uma hora na mesma postura e sem se mexer era bem fácil para mim, pelo menos em casa era, mas no retiro isso foi bem complicado. O meu corpo apresentava faniquitos durante essas meditações de firme determinação, mas ao longo do curso tu vais entendendo os motivos desses faniquitos, incômodos e tudo vai ficando mais leve, tranquilo e a meditação volta a fluir. 

Aprendi no retiro que a firme determinação é um ensinamento para a vida e que aplicar ela a sua postura é apenas um modo de iniciar esse caminho no restante de seu ser. Falo isso por acreditar que a firme determinação é a atitude que devemos tomar em relação a tudo, no retiro eu refleti sobre muitas coisas que aconteciam dentro de mim e visitei muitas sombras e luzes de meu ser, sendo por meio dessas visitas que tive a certeza de que manteria a firme determinação com determinados pensamentos, sentimentos e emoções em minha vida. Aprendi lá que tudo passa e que a Anicca, ou impermanência, acontece dentro de nós, na natureza, em tudo que vivenciamos hoje, amanhã e agora, mas que caberá a mim manter uma firme determinação com todas as coisas que a vida irá apresentar e como eu irei vivenciá-las em meus dias. 

Assumi comigo mesmo ali no retiro que iria aprender a amar as pessoas, a vida e tudo de uma forma pura, sincera e verdadeira, amaria sem querer retribuição, amaria por amar e compreenderia que aquele que mais parece me machucar, me tirar do eixo, do sério ou me irritar é ele que mais precisa do meu amor. Por que eu digo isso? Digo e afirmo isso, pois durante uma das meditações algo que andava estudando, buscando na espiritualidade, me veio como experiência que aquele que tem essas atitudes comigo e me deixa assim é justamente o mais parecido comigo e que ele tem algo importante a me ensinar que eu não estou percebendo. Aprendi na prática, ou melhor senti dentro de meu ser, uma frase que foi atribuída a Jesus “Ame o seu próximo como a si mesmo”, ah que coisa linda, que coisa simples e fácil de se fazer e se amar, não é pessoal. Mas deixa eu contar um segredinho e se você descobrir que nem a si mesmo tu consegues amar de verdade, percebi que dentro de mim havia muitos sentimentos de ódio, de dor, rancor e raiva para comigo mesmo, sentimentos esses que se referiam quase sempre ao meu passado, com coisas que fiz e não aceitei e que principalmente não havia me perdoado, ou a desejos e sonhos que acreditava que poderia ter feito se tivesse tomado essa ou aquela atitude. 

E quando vejo essa frase e tudo o que vivenciei e experimentei nesses dez dias percebi que tirei alguns véus que me afastavam da verdade e desse amor puro e verdadeiro. Estou aprendendo a me amar em todas as coisas, nas alegrias, nas dores, na luz e na sombra, estou aprendendo que perdoar meu passado e aquilo que já foi é a melhor forma de se viver intensamente o agora e que só tenho ele para viver e compartilhar com todos. Acredito que o mais lindo de todos foi o sentimento de gratidão, de alegria e felicidade por estar vivenciando todas essas experiências e poder partilhar ela com outras pessoas que estejam na mesma busca ou não, pois é nesse ponto que tive um dos grandes aprendizados independentemente de estar na espiritualidade, na meditação, na paz, no amor, que isso pouco importa o que importa é partilharmos a vida por meio do amor e amar até aquele que mais diferenças tem de mim e olhar para ele e perceber que ele é parte de mim e que eu sou parte dele. Ahhhhhhhhhhhhhhh essa percepção de que todos nós somos um e de que partilhamos da mesma existência aqui nesse planeta foi uma das mais belas descobertas e experiências que tive no retiro, mas essa daí vou deixar para outro texto, pois há muita emoção, conversa com outros seres e percepções envolvidas da qual vale um texto exclusivo, afinal esse é apenas o quarto ainda lhes devo outros seis. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 

Assim sendo, assumi a firme determinação de me amar em todos os seus momentos, assumi que meus erros do passado estão no passado e que me perdoo por eles, assumi a firme determinação de viver mais o momento presente, o aqui e agora com a maior intensidade que eu puder dedicar e, principalmente, assumi a impermanência das coisas o que me tira um grande peso das costas, o peso que foi uma das grandes batalhas internas que tive no retiro, o peso da autocobrança e de buscar fazer tudo lindo e perfeito sempre. E foi assim que assumi para mim mesmo a firme determinação de vivenciar as coisas como elas se apresentarem e a amá-las da forma que vierem, sem cobrá-las e julgá-las apenas apreciando e, de preferência, aproveitando-as com alegria e felicidade, pois descobri que a felicidade está dentro de nós e não fora, portanto assumi para mim mesmo a firme determinação de ser Feliz aqui e agora, independentemente, do que aconteça e tenho fé de que conseguirei e mais fé ainda de que mais pessoas conseguirão e também serão felizes. 

E finalizo esse texto como o retiro é finalizado nos ensinando uma belíssima meditação que deseja “Que todos os seres sejam Felizes – Bhavatu sabba mañgalam”. 

Gratidão, gratidão e gratidão e vamos ser felizes.