O que há além do Silêncio?



O que há além do silêncio???

Antes de iniciar esse texto, um pequeno parênteses: quero avisar que esses relatos são descrições da minha experiência com esses dez dias de meditação vipassana e que isso não quer dizer que estou certo, nem errado e muito menos que se for experimentar essa prática irá vivenciar tudo isso, até porque eu mesmo já não garanto que, na próxima experiência, vivenciarei essas sensações, emoções e pensamentos, afinal como aprendemos no curso Anicca (impermanência) o momento de agora já não é mais como o momento que tive pela manhã. Dito isso, procurarei ser o mais fidedigno com aquilo que vivenciei lá e também buscarei dizer a verdade sem muitos exageros, hipérboles ou qualquer outra técnica para que o texto fique mais bonito ou fluido.

A pergunta que deixei na última publicação era o que há além do silêncio? E a resposta é bem simples. Para mim existiu muito barulho. Deixe-me explicar, quando silenciamos a voz e entramos na prática do “Nobre silêncio”, como explicado no curso, o barulho interno se fez ouvir de uma maneira que eu jamais pensava ser possível. A minha mente fez um barulho e uma agitação nos quais me sentia completamente atordoado, tanto que no primeiro dia cheguei a sentir um leve incômodo na cabeça e o segundo dia para mim foi um dos piores que vivenciei ali. O motivo de ter sido um dos piores dias foi exatamente essa barulheira que a mente causou, pois eu por um lado buscava incessantemente me concentrar e fazer as práticas respiratórias e meditativas daquele dia e a mente por outro lado jogava milhares de informações, sentimentos e sensações em mim, o que causou um alvoroço perceptível fisicamente, no qual eu não conseguia ficar sentado na mesma posição por mais de quinze minutos e percebam que eu já medito em casa ficando na mesma posição por uma hora tranquilamente sem dores nem incômodos, porém lá não conseguia me estabilizar por quinze minutos na mesma postura.

Outra inquietação que essa barulheira causou foi trazer sensações diversas e a percepção de que quase a todo momento eu me desconcentrava da respiração e começava a viajar nos meus pensamentos, medos, alegrias, anseios e tudo mais.

Sendo exatamente nesse ponto que como observador percebi o quanto a minha mente é Luz e Sombra ao mesmo tempo e o quanto eu mesmo muitas vezes inconscientemente alimento as sombras no meu dia a dia, coisa que eu jurava que não fazia mais há algum tempo, ahhhhhh doce engano esse que eu tinha, mas agradeço demais pela prática de vipassana ter me dado essa luz e ter me tirado essa ilusão da mente e do corpo...

O segundo dia chegou a ser tão complicado para lidar com essas emoções, sentimentos e barulheira que a minha mente fazia que na prática da meditação obrigatória pela tarde chegou a passar pela minha mente desistir, mas na hora lembro de ter falado comigo mesmo – Vou esperar esse dia terminar e amanhã cedo se ainda estiver com esses sentimentos e emoções aflorados em mim, refletirei se continuo ou abandono essa jornada. Porém, não passou muito tempo e chegou a palestra da noite e como uma voz cirúrgica os ensinamentos de Goenka vieram a fundo e falaram tudo aquilo que eu precisava ouvir no momento e me tranquilizaram com relação a toda aquela barulheira interna que eu experimentava de uma forma que nunca havia vivenciado antes e que devia me apegar na impermanência (Anicca), pois amanhã seria outro dia e nada seria igual ao que eu já tinha vivenciado nesses dois primeiros dias...

E foi exatamente isso o que aconteceu, o dia seguinte foi completamente diferente, não ficou mais tranquilo e leve, mas eu consegui me concentrar mais, consegui pela primeira vez em três dias experimentar uma meditação de uma hora na mesma postura, consegui vivenciar melhor a impermanência sem ficar apegado às sensações, sentimentos, emoções e pensamentos que vinham, eles começaram a fluir em mim como uma nuvem que chega, passa e some, exatamente como na natureza e olha que isso era uma das coisas que mais se falava por lá, estamos aqui vivenciando as leis da natureza, nada mais do que a observação das leis da natureza...

Então foi isso que encontrei além do silêncio, muito barulho interno, barulho esse que não silenciou em nenhum momento e nem sei se um dia nessa existência conseguirei silenciá-lo, mas que a persistência, paciência e a forma de visualizar tudo isso mudou em mim lá mesmo, me fez ver esse barulho de outra forma e até mesmo as minhas sombras que ficaram bem explícitas para mim, me fizeram ver tudo de outra forma. Falarei mais das sombras no próximo texto...

Gratidão por lerem, acompanharem e espero que esse relato seja a verdade da experiência que vivenciei, que sei que já não existe mais, mas que serve ainda de ensinamento e lição para mim...

E viva a Aniccaaaaaaaaaa (impermanênciaaaaa)... hehehehehe

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