Somos Todos Um - Parte 2
Na continuação do texto sobre a percepção de sermos um, irei
abordar a perspectiva com relação à energia e às outras pessoas que estavam no
espaço meditando. Como mencionei no texto anterior, essa percepção se deu de
forma sutil e bem inesperada, mas aconteceu e acredito que um dos motivos para
conseguir perceber isso se deveu ao fato de estarmos em silêncio e, principalmente,
de estarmos conectados inteiramente conoscos e com aquele momento, pois não
havia nenhum tipo de distração além da meditação, ou seja, não havia contato
algum com o mundo externo por meio de televisão, celular, livros, cadernos.
Durante o retiro você se conecta inteiramente com a prática de meditação e com os
dias nos quais se encontra ali consigo mesmo.
A busca é sempre por um aprendizado seu, por um crescimento
interior e principalmente por focar sempre em você mesmo, mas as energias e as percepções
do outro continuam a existir, já sou uma pessoa sensitiva, aí nesses momentos
de total conexão comigo mesmo isso aflorou ainda mais e a percepção de que
somos todos um surgiu de maneira linda e forte. Percepção essa que começou por
compreender e sentir a energia das pessoas que estão dividindo o quarto
contigo, muitas vezes senti que um deles não estava bem, que estava fazendo um
grande esforço para continuar naquela empreitada de dez dias, outras vezes fui
eu que não estava bem e percebia que eles também notavam esse meu estado de
espírito, por mais que não fizéssemos nenhum tipo de comunicação e evitando até
mesmo a comunicação visual, mesmo assim continuávamos a sentir as energias e as
dificuldades.
Outra percepção foi a energia na sala de meditação. Conforme os
dias foram passando e as pessoas se integrando mais e vivenciando ainda mais
aqueles momentos, senti que a meditação que antes parecia mais difícil de ser
feita, de que a firme determinação de ficar sentado por uma hora na mesma postura
que parecia impossível nos primeiros dias, com o passar do tempo foi ficando
mais fácil e acredito que tudo isso se deveu a entrega e a energia de todos que
estavam cada vez mais focados e determinados em finalizar os dez dias. Embora
tenha sentido tudo isso, também senti pessoas se desgarrando dessa energia do
todo, ao meu lado, mas na parte feminina do retiro, comecei a sentir desde o
quinto dia uma energia muito forte e que uma pessoa não estava bem, mas estava
buscando com todas as suas forças conseguir passar por esses momentos sem se
afetar. Eu como reikiano, algumas vezes me veio muito forte a sensação e o
sentimento de enviar a energia do reiki e do amor incondicional para aquela
pessoa, porém havia feito uma promessa ao entrar no curso de que, “durante
aqueles dez dias eu só trabalharia com a técnica vipassana, deixando o reiki e
qualquer outro tipo de terapia de cura de lado, para experimentar somente a
técnica que estavam nos ensinando”. Apesar de sentir isso, eu muitas vezes
mantinha um diálogo interno de que estava ali por minha causa, que já estava
com certas dificuldades de lidar com as minhas luzes e sombras e que me
distrair ou sentir as sensações das outras pessoas só iria me atrapalhar.
Apesar de afirmar isso constantemente a minha mente, percebi que o sermos um
envolve isso também e que a única coisa que me restou com relação a essa mulher
foi mandar energia de que tudo ficaria bem, de ouvir o que os professores
estavam falando de que tudo passaria e para ela ter fé, força e coragem para
seguir que no final, com certeza, que iria compensar. Assim, sempre que eu
sentia alguma coisa com relação a ela, ou qualquer outra pessoa, eu
automaticamente entrava nessa vibração e pensamentos para que assim a energia
do todo ali, misturada com a minha, se fortalecesse para seguirmos adiante rumo
ao final do retiro.
Senti algo muito estranho no sétimo dia, senti um alívio e
uma sensação de leveza e aí por mais que eles pedissem para não olhar para o
lado e para os outros alunos, não me contive e fui procurar com o olhar por
essa mulher que sentava ao meu lado, não a achei em canto nenhum da sala de
meditação e depois no final do curso vim saber que ela havia desistido nesse
dia em que senti a energia mais leve. Porém, tu podes me perguntar se ficou
mais fácil para mim os dias que se seguiram ou se eu fiquei em paz, já que não
sentia mais essa energia, embora também acreditasse que seria isso que me
aconteceria. Na realidade foi bem o oposto fiquei muito inquieto em alguns
momentos tentando entender o que se passava comigo e por que essas sensações e
energias tinham sumido de mim, e algo dentro de mim dizia que ela tinha saído
do retiro, mas essa intuição que veio dentro de mim me deixou triste, ao
contrário do que todo aquele alívio e leveza me proporcionaram, parecia que uma
parte de tinha se perdido no caminho e que não voltaria mais. Foi uma sensação
bem estranha com a qual tive que lidar, mas foi justamente essa sensação que me
trouxe a completa certeza de que somos todos um e que a felicidade do outro é a
minha também, a de que a alegria do outro é a minha também e que a tristeza do
outro será a minha também. E aí fiquei triste por ter a vizinha de tapete e,
principalmente, por ela não ter conseguido continuar conosco e finalizar o
curso, mas mesmo assim foquei em mim mesmo e assumi a responsabilidade por tudo
o que estava sentindo e disse que até isso passaria, mas que desejava o melhor
para ela e que se ela havia feito essa escolha tinha seus motivos dos quais só
poderia apoiar e desejar que ela fosse feliz, e assim com esse sentimento
dentro de mim, me senti mais leve e os dias que restaram se tornaram ainda mais
intensos e fortes nas prática.
Agora vou relatar alguns outros casos da percepção de que
somos um, que só consegui compreende-los depois dessa experiência com a vizinha
de tapete, pois aí como numa enxurrada vários momentos ali vieram em minha
mente e me mostraram que aquilo que tinha sentido com fulano, depois com
ciclano e por fim com fulano novamente, foram percepções de que somos um e do
quanto podemos ajudar um ao outro só de estar ali presente. A primeira
percepção que senti veio de um amigo que já era praticante de vipassana durante
um almoço. Ao sentar ao meu lado, senti uma energia muito forte da parte dele
que me trouxe uma paz, uma leveza, uma força e uma certeza de que conseguiria
finalizar o curso, ao mesmo tempo também senti da parte dele uma certa
preocupação comigo, mesmo sem nem nos olharmos, nem ter qualquer tipo de
contato, somente sentamos um ao lado do outro no almoço, alguns diriam acaso,
ou destino, mas eu depois de tudo isso só posso afirmar que foi mais uma
sincronicidade do Universo. E no final do retiro quando voltamos a falar, uma
das primeiras coisas que conversamos foi justamente que ele havia ficado
preocupado comigo por causa da alimentação e tals, já que havia dito que era
vegano e cozinhava. E aquele dia o almoço tinha algumas coisas com queijo e
também a comida não é muito temperada e ele percebeu eu temperando ela com as
ervas finas que tinha disponível e orégano.
O outro evento, na verdade tiveram alguns com ele, afinal
desde o dia zero – o dia em que chegamos no retiro pela tarde – até a palestra
de apresentação das regras e distribuição dos tapetes com os quais ficaríamos na
sala de meditação é possível conversar, ou seja, da hora em que tu chegas ao
retiro até umas sete horas da noite podes falar com as pessoas e até mesmo
combinar algumas coisas com os colegas de quarto e tals, essa foi a orientação
recebida pelos colegas mais antigos que já haviam feito o curso uma vez pelo
menos. Então nessas horas que antecederam a palestra ficamos conversando ali na
grama, cada um conhecendo o outro um pouco mais e com ele houve uma identificação
muito forte e uma energia que aconteceu, sei e sinto que já nos conhecíamos
antes mesmo do retiro, mas isso é outra história. O que irei relatar aqui foram
experiências e sensações que tive com relação a ele que me ajudaram, me deram
força e acredito que ele também deva ter sentido isso. O meu segundo dia,
aquele que já relatei para vocês que foi bem complicado e cheguei a pensar em desistir,
eu sentei na varanda do quarto do gerente após o lanche e fiquei ali observando
a natureza e pensando quem sabe vivenciaria a experiência com os guaxinins (ou
gambás) novamente, mas já era final de tarde e só tinha uns passarinhos
cantando e as borboletas bailando no ar, além dos mosquitos. Eu ali sentado
fiquei olhando para o arbusto e refletindo sobre tudo o que estava sentindo e
vivenciando ali naquele momento, de repente ele apareceu e se encostou na
pilastra ali da varanda, ficando um tempo ali parado, durante esse tempo em que
ele esteve ali só senti uma energia de força,” vamos que não está fácil, mas
vamos lá que tu vai conseguir assim como eu, força aí parceiro estamos juntos
nessa e vamos terminar esse curso”, depois de alguns minutos ele saiu
caminhando e eu continuei ali parado me sentindo mais energizado e pronto para
as meditações finais que restavam naquele dia e até mesmo com uma sensação de
que aquilo tudo iria passar, o outro dia seria bem melhor do que esse e a
vontade de querer fugir sairia de mim. Tivemos outras experiências no
refeitório quando almoçamos próximo e senti que ele estava vivenciando um dia
difícil e aí foi minha vez de irradiar essa energia de força e fé de que tudo ficaria
bem, aniccaaaaaaa (impermanência) meu querido, aniccaaaaaaa (impermanência). E
por fim tivemos uma experiência na mesma varanda, mas dessa vez ele já estava
sentado lá e percebi que estava meio desanimado, parecia estar sentido dores e
incômodos, aí eu sentei ali próximo, meio distante mas próximo e fiquei vibrando essas energias
de força, fé e paz, depois de um tempo ele se levantou e eu logo me levantei
também, pois tinha um mosquito me pentelhando e fui para o quarto passar
repelente, mas uma das primeiras coisas que falamos quando tivemos a
oportunidade no último dia foi desse momento na varanda e ficamos rindo daquela
cena e tals.
Tudo isso me fez perceber que a teoria da física quântica e
da espiritualidade, em muitas religiões, de que somos todos um é verdadeira e
que foi por meio dessas pequenas conexões entre nós seres humanos – entre eu e
a natureza ali do lugar e por meio das sensações de todas essas energias que
estavam ali permeando o nosso retiro – que descobri o quanto somos ligados um ao
outro e o quanto nossas vibrações influenciam no outro e no mundo. Aí quando
voltei para a Matrix, e onde estou até agora, só posso dizer que a energia dela
influencia demais em tudo e que nós conseguimos mudar a vibração e a frequência
quando nos permitimos, mas que precisamos estar sempre alertas e atentos para
não cairmos na vibração que está por aí. Voltar para a Matrix e meditar fora do
retiro me fez perceber que cada dia é um dia e dependendo de como as vibrações
do mundo e do que me cerca chegam a mim e eu permito que cheguem as minhas
meditações são completamente influenciadas por isso. Em dias em que estive mais
tenso e vibrando tensão a meditação foi intensa, forte e parecia não ter fim
nunca, em dias em que conseguia ficar mais tranquilo, vibrar mais o amor, a
paz, a alegria na hora em que senava para meditar parece que estava flutuando e
a vontade era de ficar ali eternamente. Por essas e outras meus queridos
leitores e amigos, cuidemos muito daquilo que vibramos e principalmente daquilo
que iremos dar importância, pois é isso que irá reverberar dentro de nós e
assim se materializará em nosso dia a dia. Então está na hora de todos nós
começarmos a vibrar amor, paz e alegria e assim mudarmos a energia desse país e
consequentemente desse mundo...
Gratidão a todos por estarem acompanhando esses textos e peço
a vocês que compartilhem suas dúvidas, questões e o que vocês gostariam de
saber sobre o retiro vipassana, assim vão me ajudar a finalizar essa série de
dez textos, afinal ainda lhes devo quatro textos e até o momento só tenho ideia
de escrever sobre mais dois temas, um deles sobre a percepção de tempo como já
mencionei anteriormente e o outro é segredo...hehehehe
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